Diagnóstico laboratorial da coqueluche: quando e como realizar os exames
Publicado em: 08/09/2025, 12:15

A coqueluche, também conhecida como tosse comprida, é uma infecção respiratória aguda causada pela bactéria Bordetella pertussis, que pode acometer indivíduos de todas as idades, independentemente do estado vacinal. O diagnóstico laboratorial desempenha um papel fundamental na confirmação de casos suspeitos, especialmente durante surtos, e na definição da conduta clínica adequada. A definição de caso suspeito inclui todo indivíduo com tosse seca há 14 dias ou mais, associada a pelo menos um dos seguintes sintomas: tosse paroxística (súbita e incontrolável, com várias tossidas rápidas e curtas em uma única expiração), guincho inspiratório ou vômitos após os episódios de tosse.
A escolha do exame laboratorial ideal varia de acordo com o tempo de evolução dos sintomas. Nas primeiras duas semanas de tosse, recomenda-se a realização de cultura e RT-PCR. A cultura é considerada o padrão ouro para o diagnóstico da coqueluche, pois permite o isolamento direto da B. pertussis a partir de material colhido da nasofaringe, desde que a técnica de coleta e transporte seja adequada. No entanto, sua sensibilidade diminui após esse período devido à redução da carga bacteriana viável, o que pode resultar em falsos negativos. A RT-PCR, por outro lado, apresenta elevada sensibilidade e detecta o DNA da bactéria, sendo útil até a quarta semana de sintomas, embora com maior risco de resultados falso-positivos. Um resultado reagente nessa fase pode ser confirmado por isolamento bacteriano pela cultura ou pela detecção do material genético da B. pertussis por PCR.
Entre a segunda e a quarta semana de evolução da tosse, ainda se recomenda a realização de RT-PCR, mas também se deve considerar a sorologia, que se torna progressivamente mais útil à medida que o tempo avança e o sistema imunológico do paciente responde à infecção. Um resultado reagente nessa fase pode ser obtido tanto por PCR quanto por uma sorologia positiva, que deve sempre ser interpretada em conjunto com o quadro clínico do paciente. Resultados não reagentes indicam ausência de detecção da bactéria tanto por PCR quanto por sorologia, o que, no entanto, não exclui o diagnóstico se houver forte suspeita clínica.
Após quatro semanas do início da tosse, a sorologia torna-se o principal exame diagnóstico. A sorologia IgM é considerada positiva quando apresenta valor igual ou superior a 1,1 UI/mL; resultados entre 0,8 e 1,0 UI/mL são classificados como indeterminados; e abaixo de 0,8 UI/mL são considerados negativos. Já para a sorologia IgG, valores inferiores a 40 UI/mL são considerados negativos; entre 40 UI/mL e menos de 100 UI/mL indicam infecção antiga, com mais de um ano; e valores iguais ou superiores a 100 UI/mL sugerem infecção recente ou vacinação recente contra a Bordetella pertussis. Nestes casos, é recomendada a coleta de uma nova amostra pareada entre 10 e 14 dias após a primeira, o que permite uma avaliação mais precisa da evolução dos títulos de anticorpos. Um aumento de 100% nos níveis de IgG em relação à primeira amostra, ou uma diminuição igual ou superior a 50%, pode ser interpretado como diagnóstico confirmado de infecção recente.
É importante ressaltar que a sorologia não deve ser realizada em até um ano após a vacinação contra a coqueluche, pois a presença de anticorpos induzidos pela vacina pode interferir nos resultados, dificultando a interpretação correta. A principal utilidade da sorologia está no esclarecimento de casos com sintomas persistentes e testes moleculares negativos, além da investigação de surtos.
Portanto, a escolha do exame laboratorial adequado depende do tempo de evolução da tosse e da associação com os sintomas clínicos. Até duas semanas, cultura e PCR são os métodos de eleição. Entre duas e quatro semanas, o PCR ainda é útil, com a sorologia sendo progressivamente incorporada. Após quatro semanas, a sorologia passa a ser o principal recurso diagnóstico. A interpretação dos exames deve sempre considerar o contexto clínico e epidemiológico, garantindo assim maior precisão no diagnóstico e controle da doença.
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