HIV e AIDS - entender é cuidar!!
Publicado em: 15/12/2025, 18:43
O HIV e a AIDS ainda são assuntos que geram dúvidas. Conversar sobre pode ser complicado. Mas, entender esse tema é libertador e pode ser mais simples do que parece.
Com os avanços da ciência, falar sobre o HIV é falar de cuidado, de autonomia e possibilidades de viver saudável.
Compreender é o primeiro passo para se proteger e cuidar de quem você ama.
Do desconhecido para um mundo de conhecimento
Em 1993, o filme Philadelphia levou ao cinema um tema pouco discutido: a AIDS. O filme expôs o peso social associado ao vírus HIV. Naquela época, o diagnóstico era considerado grave.
Conforme a ciência avançou, essa realidade mudou. De uma sentença negativa, passou a ser uma condição crônica controlável.
Desde então, filmes, livros e documentários foram publicados para facilitar diálogos sobre o tema. Confira a nossa curadoria nas redes sociais do DB.
Mesmo assim, o estigma e a desinformação facilitam que a transmissão do HIV continue.
O Dia Mundial da Luta Contra a AIDS é celebrado em 1º de dezembro. Um movimento que homenageia o passado, celebra os avanços e reafirma o compromisso com políticas públicas e com a ciência.
Compartilhar esse conhecimento quebra barreiras e reduz estigmas. Vamos falar sobre o HIV?
Vamos entender o HIV?
— o vírus da imunodeficiência humana
O HIV é um vírus que infecta as células chamadas de T CD4 — são elas que coordenam o sistema imunológico.
Uma vez dentro da célula, mais vírus são criados e espalham-se pelo corpo — essa é a fase inicial da infecção. As células infectadas pelo HIV são destruídas, e os primeiros sintomas aparecem. São amenos, não específicos e desaparecem sozinhos.
Sem tratamento, a infecção persiste de forma silenciosa e entra na fase crônica. Muitas pessoas não apresentam sintomas por anos. Até que alguns sinais surgem, como alterações na pele ou herpes recorrente.
Com o tempo — e sem tratamento — o HIV destrói mais células T CD4. Quando o número dessas células fica muito baixo, a AIDS é diagnosticada.
O que é a AIDS?
— Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
AIDS é a manifestação avançada e não tratada da infecção pelo HIV.
Com a diminuição de células T CD4, o sistema imunológico enfraquece. Os riscos de infecções oportunistas e outras complicações aumentam. Sem tratamento podem ser fatais.
Como é feito o tratamento?
Com a terapia antirretroviral (TARV).
Ela bloqueia as etapas do ciclo de multiplicação do HIV. Permite que o sistema imunológico se recupere.
O principal objetivo da TARV é impedir que o vírus se multiplique.
Há vários medicamentos que atuam em diferentes etapas do ciclo do vírus dentro da célula. Ao bloquear a criação de novos vírus, reduz-se a quantidade de vírus em circulação. Até atingir um nível indetectável, momento em que o sistema imunológico volta ao normal.
Existe cura?
A infecção pelo HIV ainda não tem cura. Isso acontece porque o vírus fica adormecido dentro das células, criando reservatórios. Dentro desses reservatórios, o vírus fica invisível ao sistema imunológico.
A terapia antirretroviral (TARV) impede que o vírus se multiplique, mas não elimina os reservatórios adormecidos. Por isso, ao interromper a terapia, os vírus, antes adormecidos dentro das células, despertam e reativam a infecção.
Você sabia?
- Embora não haja cura, há alguns casos isolados de pessoas que ficaram livres do vírus. São pacientes que realizaram um transplante de medula óssea para tratar um câncer que tinham. Os médicos buscaram tratar tanto o câncer quanto o HIV, e escolheram doadores com uma mutação rara em uma proteína que dificulta a entrada do HIV nas células — a proteína é conhecida como CCR5. O primeiro caso ficou conhecido como “paciente de Berlim”.
- Além disso, cientistas estão estudando novas formas de tratamento. Uma delas usa uma técnica chamada CRISPR — capaz de editar genes. Com essa técnica, é possível reduzir a quantidade da proteína CCR5 nas células. Assim, o vírus tem mais dificuldade de infectar as células.
- Em 2022, um estudo clínico avaliou essa terapia. Porém, após 12 semanas, quando os pacientes pararam o uso da TARV, o vírus voltou.
- Neste ano, outro estudo usou o CRISPR com um novo objetivo: acordar os vírus que estão nos reservatórios. Isso é importante porque o HIV se esconde nesses reservatórios e a terapia atual não os elimina.
- Essas terapias têm um longo caminho para alcançarem uma cura clínica. Os cientistas agora buscam formas de eliminar o vírus escondido no corpo, para que no futuro seja possível encontrar uma cura definitiva para o HIV.
O poder de saber a sua sorologia
Testar é fundamental!
A testagem é o primeiro passo para iniciar o tratamento. Quanto mais cedo identificar, mais cedo poderá iniciar o tratamento.
Conhecer a sua sorologia de HIV é um ato de cuidado. Pois, reduz os riscos de transmissão e permite acesso ao tratamento. Além de fortalecer o cuidado individual, coletivo e os relacionamentos.
As testagens podem ser feitas tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento do HIV.
Monitorar periodicamente a quantidade de vírus e manter o tratamento são ferramentas importantes para controlar a infecção, diminuir as chances de transmissão e de desenvolver a AIDS.
Indetectável = Intransmissível (I = I)
A ciência explica: pessoas que vivem com HIV, que seguem o tratamento e que realizam testes periodicamente, não transmitem o vírus. Pois, conseguem manter a carga viral indetectável e não transmitem o vírus.
I = I é a base para a prevenção do HIV, uma ferramenta contra os estigmas e que permite uma vida completa e saudável.
Você sabia?
- I = I foi validado por estudos científicos como o HPTN052 e o PARTNER, e é endossado globalmente como forma de prevenção e cuidado com o HIV.
Quais são as ferramentas de prevenção?
1) PrEP = Profilaxia Pré-Exposição
Combina dois medicamentos que bloqueiam a entrada do HIV no organismo.
Pode ser usada de 2 formas:
- PrEP diária: tomada todos os dias, de forma contínua — como rotina de autocuidado.
- PrEP sob demanda: indicada para pessoas que conseguem programar o uso.
A PrEP é uma forma de autocuidado — uma ferramenta de prevenção que pode ser usada por todas as pessoas.
2) PEP = Profilaxia Pós exposição
São medicamentos tomados em até 72h após a possível exposição ao HIV.
3) Prevenção Combinada
A mais efetiva: combina PrEP, I = I, preservativos e estratégias de redução de danos.
Lembre-se: é essencial fazer o acompanhamento de saúde com um médico infectologista e manter uma rotina de testagem regular.
E o futuro?
Dois pilares foram fundamentais nessa jornada, para chegarmos até aqui:
As descobertas da imunologia que auxiliaram a compreensão sobre HIV e como os medicamentos funcionam, e permitiram desenvolver as terapias.
As ferramentas de Saúde Pública: como a estratégia I = I e PrEP que reduzem a transmissão do vírus e protegem diversas comunidades.
A ciência e a saúde pública vêm transformando o HIV de uma infecção grave em uma doença crônica controlável. Para continuarmos nesse caminho, é essencial:
- Fazer o teste;
- Entender o I = I;
- Criar diálogos sobre o tema;
- Combater o estigma.
Não falar sobre o HIV é prejudicial. O preconceito e o medo são impeditivos para muitas pessoas não realizarem o teste. Isso tira a oportunidade dos pacientes se tratarem e terem uma vida saudável.
O diálogo é a melhor forma de combater o estigma.
Curiosidades do Brasil
O Brasil completa 40 anos de resposta ao HIV. Neste dezembro vermelho, o Ministério da Saúde e o Museu da Pessoa lançaram uma chamada pública para reunir as histórias de quem vive com HIV.
Essa iniciativa é apoiada pela UNAIDS e integra a mostra virtual “O que vi da história da AIDS no Brasil”.
O Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV e alcançou as metas internacionais nesse tipo de transmissão. Esse marco foi compartilhado no novo boletim epidemiológico do Ministério da saúde. Esse é um dos resultados de manter a testagem, de realizar o acompanhamento no pré natal e manter um tratamento eficaz para gestantes.
Esses avanços abrem novos caminhos para o futuro. A prevenção está no movimento e na transformação. Além da PrEP oral diária e sob demanda, o uso de PrEP injetável de longa duração está em discussão para ser incorporado ao SUS, o que amplia as opções de cuidado e reduz as barreiras de adesão.
Ao revisitar a história da AIDS, o Brasil reafirma seu compromisso com o controle da epidemia, investindo em prevenção inovadora, novos tratamentos e pesquisas. São ações que fortalecem a resposta ao HIV e incentivam a criação de diálogos — fundamentais para combater o estigma e ampliar o cuidado.
Conhecimento e informação são ferramentas poderosas. Ao conhecermos o vírus, entendemos como prevenir e tratar. Abrimos espaço para o cuidado, para o diálogo e para a redução do estigma.
Neste dezembro vermelho, vamos compartilhar informações e histórias sobre a epidemia de HIV.
O preconceito e o estigma matam mais do que o HIV.
Falar sobre HIV é um gesto de cuidado e saúde coletiva.
Não se esqueça: livros e filmes podem auxiliar bastante nesse diálogo. Confira a nossa sugestão nas redes sociais do DB!
Referências:
- ALMEIDA, Eduardo. Ministério da Saúde e o Museu da Pessoa lançam chamada para que pessoas que vivem com HIV contem suas histórias - UNAIDS Brasil. UNAIDS Brasil - Website institucional do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) no Brasil. Disponível em: <https://unaids.org.br/2025/11/o-ministerio-da-saude-e-o-museu-da-pessoa-lancam-chamada-para-que-pessoas-que-vivem-com-hiv-contem-suas-historias/ >. Acesso em: 5 Dec. 2025.
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